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  • No final dos anos o

    2019-04-29

    No final dos anos 1960 o apra já estava desalojado da liderança do movimento estudantil, e na década seguinte o apelo guerrilheiro daria lugar ret pathway uma atuação colada aos movimentos camponeses, embora a revolução permanecesse no horizonte político desta esquerda, que se propõe a fundar uma nova tradição socialista no seio da esquerda marxista, que não se identificava com o apra, nem com o pcp. De fato, esta esquerda se construiu política e ideologicamente em oposição ao governo de Velasco Alvarado (1968‐1975), o que implica em um paradoxo, pois foram as transformações impulsionadas por este regime singular que criaram as condições objetivas para o avanço da nova esquerda: no campo, onde camponeses foram liberados de relações praticamente servis; em prol dos indígenas, que tiveram a língua quéchua reconhecida pelo Estado, em um país onde eram proibidos de circular nas calçadas em muitas cidades até então; entre os trabalhadores em geral, uma vez que se reconheceram mais sindicatos durante os sete anos sob o governo do Velasco do que em todo o período republicano até então; entre os servidores públicos, setor que se expandiu concomitantemente à presença estatal, que chegou a manejar 50% do pib do país; também nas periferias, onde modalidades de organização urbana como as Coperativas Urbanas Autogestinarias de Villa El Salvador foram estimuladas, ainda que sob um enfoque tutelar. Em resumo, a despeito do pouco tempo que as reformas velasquistas tiveram para assentar‐se e dos limites democráticos de um regime que teve intenção de monopolizar o poder, “se puede decir que en gran parte, la constitución, expansión e importancia de la Nueva Izquierda se explica por el velasquismo; éste crea procesos y fortalece actores que darían solidez a la izquierda peruana”. Na visão de seus protagonistas, a autonomia preservada frente a Velasco qualificou esta esquerda para resistir com relativo êxito à ofensiva contra os trabalhadores desencadeada pelo segundo momento do Gobierno Revolucionario de las Fuerzas Armadas, liderado por Morales Bermúdez. Foi o vigor da greve geral de julho de 1977, à qual o Estado reagiu despedindo cerca de 5 mil sindicalistas, que convenceu o regime de que havia dois caminhos para conter o ascenso das massas: uma ditadura repressiva inspirada nos vizinhos do Cone Sul, ou uma saída política negociada com os partidos convencionais. É neste momento que os militares e o apra se reconciliam em uma chave conservadora, convocando‐se uma assembleia constituinte para o ano seguinte, presidida por este partido. Inicialmente, a esquerda se dividiu quanto à conduta a adotar frente a perspectiva de transição, mas afinal disputou o pleito constituinte, em que somadas as distintas legendas, arrebata um terço dos votos. Apenas duas agremiações não se incorporam neste momento ao processo legal: pcpPatria Roja (pr), que ingressará nas eleições seguintes e o pcpSendero Luminoso (sl), que declarará guerra ao Estado pouco depois. No entanto, ambiguidades permeiam o processo e alguns constituintes como Hugo Blanco, provavelmente o trotskista que maior votação já recebeu na história, não assinaram o documento final. Mas no conjunto, prevaleceu a Kinetochore leitura de que era prioritário garantir que os militares demitiram do poder, o que estes só se comprometiam a fazer mediante uma transição negociada. A constituinte foi sucedida por uma eleição presidencial em 1980 que aguçou o dilema em relação à postura a adotar frente ao Estado, para uma esquerda de matriz revolucionária que identificava, em grande medida, “claudicación política y camino electoral”. Havia uma convicção arraigada de que as forças da ordem jamais permitiriam um governo de esquerda, o que incidiu nos cálculos políticos até o final da década. Em linhas gerais, à exceção de Sendero, a questão fundamental neste momento não era a participação eleitoral, mas sim o papel deste instrumento em um horizonte de transformação social. Houve uma tentativa por aglutinar as frações mais radicais da esquerda em torno da Alianza Revolucionaria de Izquierda (ari), tendo em vista as eleições presidenciais de 1980. No entanto, esta aliança só durou três meses e foi rompida por diferenças mesquinhas entre as dirigências políticas, o que gerou uma frustração até hoje insuperada para alguns. Comparecendo desunida a este pleito, as sete candidaturas de esquerda somadas receberam cerca de 13,6% dos votos, menos da metade do que colheram dois anos antes. Em amarga ironia, resultou eleito Francisco Belaúnde Terry, o presidente que Velasco Alvarado depusera em 1968. O fracasso da ari não significou a impossibilidade de uma aliança de esquerda, mas sim que esta nasceria de uma derrota, o que teve implicações decisivas. Ao conformar‐se Izquierda Unida (iu) poucos meses depois, a liderança política desta nova frente caberia ao setor mais moderado das esquerdas, que havia apoiado a Velasco. Esta tendência personificou‐se na figura de Alfonso Barrantes, cujo principal atributo político parece ter sido não identificar‐se com quaisquer dos grupos rivais, além do significativo carisma popular que lhe levou à prefeitura de Lima. Izquierda Unida adotou um perfil precipuamente eleitoral, e as possibilidades de estabelecer nexos orgânicos com o movimento popular foram pouco aproveitadas. Este distanciamento certamente colaborou para que rixas interpartidárias ou interpessoais prevalecessem sobre projetos comuns, perpetuando uma lógica herdada dos anos anteriores.