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  • Todos os intelectuais que publicaram

    2019-04-29

    Todos os intelectuais que publicaram na revista, em alguma medida, foram tocados pelo contexto das ditaduras militares no Cone Sul e pela condição exílica. Assim, no que se refere ao exílio, CB-5083 partir da concepção de Ángel Rama, concebemo-lo como uma condição que submete àqueles que a sofrem a processos de transculturação, a experiências sociais violentas e a rudes mutações em razão da obrigatoriedade de viver em ambientes culturais e de sociabilidade distintos do seu ambiente de origem. Comungamos também da perspectiva de exílio presente em Edward Said, para quem a dificuldade do exilado não consiste somente em ser forçado a viver longe do seu país, mas, sobretudo, em ter de viver com a lembrança de que se encontra no exílio, situando-se em um estado intermediário no qual não está integrado ao novo ambiente social nem totalmente liberto do seu lugar de origem. Concebemos, portanto, a experiência do exílio como vivências de padecimento tanto individuais quanto coletivas, o que, por conseguinte, interfere nas produções intelectuais forjadas sob essa condição. Marcada por esses fatores gerados pelo exílio e criada como reação a eles, compreendemos a revista Araucaria de Chile a partir de três características essenciais: como bem cultural de resistência política; como espaço de socialização de intelectuais que visavam diminuir a sensação de isolamento e solidão provocada pelo exílio; e, por fim, como um meio para a veiculação de ideias e debates acerca de assuntos políticos e culturais distintos. Araucaria de Chile atuou no sentido de organizar-se enquanto oposição política à ditadura de Augusto Pinochet, mas serviu também como meio de expressão das artes visuais e da literatura chilenas, bem como discorreu sobre assuntos políticos diversos. Constituindo fonte/objeto privilegiado para o estudo da História Intelectual, as revistas são comumente dirigidas por um coletivo, e “informan sobre las costumbres intelectuales de un período, sobre las relaciones de fuerza, poder y prestígio en el campo de la cultura”. Nessa perspectiva, Regina Crespo afirma que as revistas são tradicionalmente o resultado de um projeto coletivo, representando, assim, o ponto de vista de um grupo de intelectuais, sua intervenção ideológica na arena político-cultural. Para Jean-François Sirinelli, elas tornaram-se lugares preciosos para a análise do movimento das ideias, assim como podemos concebê-las como espaços de sociabilidade intelectual. As revistas estimularam a construção de redes de sociabilidade na medida em que materializaram em papel os pensamentos de grupos intelectuais e artistas com propostas culturais e políticas comuns. Segundo Eduardo Devés-Valdés, a Abundance real constituição de uma rede de sociabilidade intelectual demanda frequência e densidade em relação à comunicação de seus membros. Entre as formas de contato, comunicação e estreitamento dos laços intelectuais estão as revistas, fundamentais para a compreensão da vida intelectual de um dado período. No entanto, embora as redes de sociabilidade remetam à associação de intelectuais por cumplicidade e afinidade de ideias, elas não excluem a pluralidade de pensamentos dentro dos grupos. Tampouco eliminam as “batalhas internas e externas, tanto políticas quanto culturais”. No que diz respeito à revista Araucaria de Chile, podemos afirmar que os laços de sociabilidade entre os intelectuais que nela escreveram foram reforçados em eventos organizados para comemorar seu aniversário, por exemplo. Saraus, conferências e atos foram realizados, contando com a presença de membros do comitê editorial, colaboradores e leitores. Tentativas de encontros frequentes, os debates e as polêmicas contribuem para a consolidação efetiva de um projeto coletivo em torno dos objetivos editoriais e políticos de uma revista. No caso de Araucaria de Chile, no que concerne às representações sobre as revoluções cubana e sandinista, é possível assinalar que tais perspectivas mostraram-se em perfeita conexão. Passemos, então, às análises dessas representações.
    Em seu editorial de lançamento, Araucaria de Chile destacou sua missão de colocar-se enquanto um bem cultural de resistência e oposição à ditadura “fascista” de Augusto Pinochet no Chile: “Creemos que hace tiempo –y con impaciencia– se esperaba por muchos chilenos una publicación como la que hoy comienza. La iniciativa corresponde a gente de una clara y permanente línea antifascista”. Entendemos que, não obstante possuísse esse intento maior de contribuir para o fim da ditadura militar no Chile, a revista, ao dar uma especial atenção às revoluções em Cuba e na Nicarágua, não só evidenciava seu pertencimento à cultura política comunista, como tinha nos dois distintos processos revolucionários exemplos claros de mudanças políticas e mesmo estruturais possíveis para o Chile sob o autoritarismo pinochetista, não descartando, para isso, a necessidade, quiçá, de um movimento armado.